Invernales
El jardín de Maeterlinck esta mañana
El invierno sólo comienza hoy y ya demora en irse.
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Tres poemas de Navidad por Fernando Pessoa
Natal
O sino da minha aldeia,
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada
Soa dentro de minha alma.
E é tão lento o teu soar,
Tão como triste da vida,
Que já a primeira pancada
Tem o som de repetida.
Por mais que me tanjas perto
Quando passo, sempre errante,
És para mim como um sonho.
Soas-me na alma distante.
Natal... na província neva
Natal... na província neva.
Nos lares aconchegados,
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados.
Coração oposto ao mundo,
Como a família é verdade!
Meu pensamento é profundo,
Stou só e sonho saudade.
E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei!
A cada pancada tua,
Vibrante no céu aberto,
Sinto mais longe o passado,
Sinto a saudade mais perto.
Natal
Nasce um Deus. Outros morrem. A verdade
Nem veio nem se foi: o erro mudou.
Temos agora uma outra eternidade,
E era sempre melhor o que passou.
Cega, a ciência a inútil gleba larva.
Louca, a fé vive o sonho do seu culto.
Um novo Deus é só uma palavra.
Não procures nem creia: tudo é oculto.